O primeiro semestre deste ano não foi bom para o setor calçadista. Isso porque as exportações de calçados caíram em relação ao ano passado. A queda do volume de vendas foi de 6,7%(de 59,36 milhões para 55,37 milhões de pares ). A diminuição na receita, por sua vez, foi mais acentuada: 7,9% (de US$ 528,7 milhões para US$ 486,9 milhões).
Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, esta queda não é um fato novo. Para ele, o arrefecimento das exportações vem desde abril. “A crise econômica brasileira e seu viés político afetou diretamente o setor, por conta das oscilações abruptas no câmbio e também fatores políticos, como a paralisação registrada em maio. Isso causou desabastecimento de insumos na indústria”, comenta.
Klein ressalta, no entanto, que a perspectiva, no início do ano, era muito mais positiva. “As incertezas brasileiras não permitem qualquer prognóstico, muito menos positivo”, lamenta.
Ele, porém, não desacredita completamente nessa recuperação. Para Klein, a participação nas feiras internacionais do segundo semestre. Esse efeito, entretanto, só será sentido nos últimos meses do ano ou início de 2019. “A maior parte das vendas de primavera-verão, ponto forte das exportações brasileiras, já foram negociadas e não notamos melhora nos índices”, avalia o executivo.
DEMISSÕES
As dificuldades por que passa o setor calçadista têm sido sentidas em grandes empresas do ramo. Uma das principais marcas voltadas ao público feminino, a gaúcha Bottero demitiu 630 funcionários de suas quatro fábricas. Mas ainda permanece com 2400 empregados diretos e 500 indiretos.
A decisão, segundo foi publicado pelo jornal Estado de Minas, foi motivada pela falta de fluxo de caixa. A empresa espera ainda recontratar, adiante, parte dos funcionários demitidos.
A Bottero é apenas um exemplo entre tantos no Brasil. Nos últimos seis meses, o setor calçadista perdeu cerca de 10% da sua força de trabalho – algo em torno de 35 mil empregados.
Renda
Vivendo um período de incertezas políticas, o Brasil segue em compasso de espera. Entretanto, enquanto as definições não chegam, o setor calçadista sofre com os 35% de capacidade ociosa e com a queda nas exportações. Segundo Heitor Klein,
A economia brasileira está fragilizada e não há condições por parte da população de comprar muitos dos bens de consumo, apenas o essencial. Não há problema de crédito para as empresas, mas de renda para os brasileiros.
A afirmação do presidente da Abicalçados é preocupante no que tange ao mercado interno. Contudo, há um outro fator a ser considerado: a Argentina, a maior importadora de calçados brasileiros.
Fator Argentina diminui exportações de calçados brasileiros
Tradicional compradora de calçados brasileiros, a Argentina também vive um momento de crise econômica. Com inflação perto dos 40%, o país portenho teve sua moeda desvalorizada. Isso foi péssimo para o setor calçadista brasileiro, que perdeu um de seus principais clientes.
Com essa situação, as fábricas brasileiras pararam de enviar seus produtos para os hermanos. Segundo Klein, os últimos embarques para lá foram feitos nos meses de janeiro e fevereiro, ou seja, há mais de quatro meses.
O cenário atual é tão crítico para o setor que nem mesmo a alta do dólar parece animar o presidente da Abicalçados. “Não tenho a ilusão de que é possível criar condições para a retomada da nossa atividade artificialmente. O fato que temos hoje é que o desemprego está alto, a renda caiu e as pessoas estão adaptando seus orçamentos a essa realidade. Isso tudo não gera negócios”, finaliza.